ITENS ENVIADOS (5)
para Renato Laclette 04/01/2001O Gerbase é meu amigo há uns 20 anos e meu sócio há mais de 10. Imagino que por essas proximidades e também por causa de algumas consoantes em comum em nossos nomes, vivemos sendo confundidos, apesar de ele ter 15 centímetros mais que eu. Além, claro, de um boxer albino que se chamava Oscar e fedia pra caralho, a ponto de me dar saudade do tempo da carrocinha cada vez que eu ia na casa dele.
para Milton do Prado 15/01/2001O mítico ano do monolito segue sem sobressaltos maiores. Collor de volta? O clube dos 13 decidiu que o São Caetano tem o direito de juntar o seu time reserva pra disputar mais uma partida no Maracanã, entregar a taça pro Romário e dar finalmente razão pro Eurico Miranda? O Bush foi considerado eleito afinal de contas? A galera do Rock in Rio pela Paz Mundial jogou garrafas num negrão que insistia em cantar em português ou coisa parecida? Enfim, nada de novo.
para Luis Maria Casabón 15/01/2001Estou entrando esta semana com os papéis pra mudar o meu nome pra Xiba Axxix Braxil, mas só no exterior, porque no Brasil a esquerda é muito conservadora, coisa mais irritante! Tenho certeza de que, com esse nome, vou conseguir dezenas de contratos pra escrever roteiros e montar filmes em Hollywood, oh que maravilha! Até porque já gastei mais de um milhão de reais num estudo de marketing pra adequar a minha marca à nova realidade globalizada.
para Rogério Ferrari 17/01/2001Encontrei, relendo um texto famoso do Gore Vidal ("Quem faz o cinema?", publicado originalmente no The New York Review of Books, 25/11/76, mas que eu tenho na coletânea "De fato e de ficção", Cia. das Letras, 1987, p.89), uma citação que me pareceu muito próxima daquilo que tu disseste, primeiro no debate na Feira do Livro, depois no carro da Letícia. Olha só:
"O romance é uma narrativa que se organiza no mundo, enquanto o cinema é um mundo que se organiza numa narrativa" - Jean Mitry.
Agora é o Millôr, na Folha de ante-ontem: "Tudo o que a gente pensa, por mais original que pareça, sempre alguém já pensou ou está pensando no mesmo momento em que pensamos. Afinal, são 6 bilhões de seres humanos, pô!"
para Talitha Freitas 29/01/2001Será que Respeito, Respeito e Responsabilidade também começam com R em tibetano?
para João Carlos Barê Junqueira 31/01/2001Alguém já disse que o computador é esse aparelho maravilhoso que resolve um número incalculável de problemas que a gente nunca teve antes. Acho que isso poderia ser projetado na montanha mágica de Davos. Mas a luta continua e o Fórum Social Mundial de 2002 vai ser de novo em Porto Alegre e, se tudo der certo, no Beira-Rio.
para Caroline Chang 31/01/2001Quanto às semelhanças com "Beleza americana", é claro que a gente notou. Mas, quando o filme do tal Sam Mendes estreou em Nova York (dia 08/09/99, segundo o Internet Movie Database), o Tolerância já estava não só com o roteiro pronto, mas inclusive completamente filmado (as filmagens foram de 01/06 a 21/07). Claro que, na montagem, dava pra ter fugido de algumas semelhanças, por exemplo tirando o OFF inicial que se fecha no final, mas o montador foi contra, e conseguiu convencer o diretor de que o filme sairia perdendo com isso.
Enfim, como eu costumava dizer nas aulas, enfim.
para Gustavo Cascon 19/02/2001Você me pergunta se a indicação de um curta brasileiro para o Oscar pode mudar alguma coisa. E eu respondo que infelizmente sim.
E deixa eu explicar bem esse "infelizmente" pra não ser mal entendido. "Uma História de futebol" é um grande filme, e os responsáveis por ele tiveram competência pra buscar o reconhecimento que o filme merece. O que é triste é que os milhares de curtas feitos nos últimos 20 anos, as dezenas de festivais que surgiram no país neste período justamente pra fazer escoar esta produção, as centenas de prêmios que estes filmes (inclusive "Uma História de futebol") conquistaram em festivais internacionais - tudo isso de repente parece se justificar apenas pela merreca de 15 segundos de presença na festa mais chata do planeta, cuja suprema breguice só serve para manter toda a produção audiovisual do mundo para sempre subordinada aos interesses de meia dúzia de grandes produtoras da costa oeste dos Estados Unidos.
É claro que o filme e seus realizadores não têm nada a ver com isso, e eu sinceramente espero que eles ganhem. Não só pelo merecimento, mas porque eu (por mais que me custe admitir) também só tenho a ganhar com isso.
para Luciana Rodrigues 20/02/2001Acabei de ler teu texto sobre o CRONICAMENTE INVIÁVEL e concordo plenamente. Quando terminei de ver o filme (em vídeo, em dezembro), tinha comentado exatamente isso: um exercício interminável de crueldade e desesperança. A crueldade com os personagens pode eventualmente ser criativa (aliás os primeiros filmes do próprio Sérgio Bianchi têm esse sentimento), mas desde que associadas a alguma forma de esperança, tênue que seja, em algum ponto que seja do filme. A crueldade final, de revelar que o escritor, o único personagem simpático do filme, na verdade viaja o Brasil inteiro não para entender o país (como parecia) mas para ganhar alguma grana com tráfico de drogas, é quase que o suicídio autoral do cara que fez MATO ELES? e MALDITA COINCIDÊNCIA. Triste. Mas mais triste ainda é que tanta gente tenha saudado CRONICAMENTE INVIÁVEL como o filme brasileiro da década. Como diria Borges, triste década.
para Márcia Dienstmann 21/02/2001Continuo achando que o Gerbase apontou uma coisa concreta: os censores (com C) deixam os seus sensores (com S) mais ativados ao analisar filmes brasileiros, e desligam total quando se trata de Hollywood. Os motivos, pra mim, continuam sendo misteriosos, mas eu sou suficientemente paranóico pra inventar uns três ou quatro.
Agora, na praia, um amigo acabou de me contar cenas de um tal TODO MUNDO EM PÂNICO que ele tinha assistido com o filho de 10 anos e eu quase caí pra trás: se a gente tivesse colocado metade daquilo no TOLERÂNCIA, o filme teria sido "classificado" para a terceira idade.
para Patrícia Moran 05/03/2001Realmente, fazer mil coisas é bom porque a gente não chega a se assustar com a perspectiva universal de desemprego (ou deveria dizer "perspectiva de desemprego universal"?). Mas é ruim porque a gente sempre fica achando que poderia fazer melhor cada uma das coisas, se não fossem, todas elas, uma em mil.
para Lisie Ane Santos 07/03/2001Não, não fui panque, nem tive um caso de amor entre tapas e tachinhas. Não esquece que essas modas todas chegam aqui ao nosso rico pedacinho de chão com um certo atraso. As "idéias" do Sid Vicious e o marketing do Malcolm MacLaren, por exemplo, só baixaram no Porto em 1984, quando eu já tinha 27 anos. Mais estranho ainda: chegaram aqui ao mesmo tempo em que o New Wave, aquela retomada irônica das cores da primavera de San Francisco com os penteados dos anos 40. E as pessoas não conseguiam perceber muito a diferença entre os dois "movimentos", então aderiam a ambos, simultaneamente. Ou seja: de uma hora pra outra a vitrine da Osvaldo Aranha ficou lotada de gente combinando roxo e amarelo (ou laranja e verde-limão, essas eram as duas únicas possibilidades) com uma joaninha sem ponta falsamente espetada na bochecha. Agora parece engraçado, mas na época juro que eu não achava.
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